sábado, 13 de fevereiro de 2010

Questão de Humanidade

Meio indignado, escrevi este texto para enviar aos jornais daqui de São Bento. Fica o registro aqui também:

"Não sei até que ponto pode ser de alguma utilidade vir aqui expor minhas impressões, ainda por cima de caráter subjetivo, a respeito de um serviço público, mas creio que calar-me não será de melhor valia.
Estive esta semana no Hospital Sagrada Família para ser atendido devido a uma lesão no tornozelo. Não gosto de ir a estes lugares, pois já passei outras vezes por situações desagradáveis neste e em outros estabelecimentos similares, mas a necessidade às vezes nos impele a freqüentá-los.
Enfim, tudo corria bem desde quando fui atendido pelo funcionário da recepção e depois pelas enfermeiras, até que chegou o momento do exame pelo médico. O referido profissional me fez um par de rápidas perguntas, olhou de soslaio para meu paquidérmico tornozelo esquerdo, e encaminhou-me ao raio-x. Coisa de dois ou três minutos, mas tudo bem pensei, depois retornarei com os negativos para concluir a consulta. Fui atendido no setor de radiografias (por sinal muito bem atendido) e retornei até a sala do médico com os negativos em mãos. Mais outros dois a três minutos e o mesmo já havia examinado o resultado do raio-x, receitou-me um medicamento e encaminhou-me para imobilizar o local da lesão. Ainda tentei tecer algumas considerações e perguntas, mas as atitudes do médico foram tão rápidas que me deixaram meio atônito, como num repentino assalto. A consulta encerrou-se comigo ainda tentando dizer algo (que já não me lembro do que se tratava) e o profissional levantando-se de sua cadeira e, sem me dar ouvidos, precipitando-se rapidamente pelos corredores do estabelecimento. Saí da sala após ele, com um sentimento algo como de ter sido assaltado mesmo, assaltado de meu direito de ser informado sobre meu estado de saúde, entre outras coisas... Saí sem saber quanto tempo deveria ficar com o tornozelo imobilizado, ou se deveria voltar para novo exame. Descobri pela atendente da farmácia qual era a dosagem diária que devo ingerir do medicamento que me foi receitado, dosagem esta que não corresponde à indicada na bula. Agora estou na dúvida se ligo para o médico perguntar quem está correto. Descobri através das enfermeiras, que leram no verso da receita redigida pelo médico, que eu deveria marcar uma nova consulta com um ortopedista (escritos estes que eu jamais teria conseguido decifrar sozinho, sem que estas funcionárias, coincidentemente, lessem a dita lauda). Aliás, a consulta com o tal ortopedista somente está disponível a partir do dia 23 deste mês, quando minha lesão já estará curada, espero, ou senão um tanto quanto agravada provavelmente.
Digo tudo isto não com o intuito de questionar os procedimentos médicos aos quais fui submetido, assunto sobre o qual sou inteiramente leigo. O que senti falta e não consegui identificar em nenhum momento da consulta médica é algo já meio démodé, que se chama HUMANIDADE. Compreendo que talvez possam faltar recursos ou infra-estrutura, mas consideração e humanidade não são vendidos a granel ou a quilo, e não têm custo nenhum. Aliás, recursos certamente não faltam na remuneração recebida por este profissional, maior do que a da imensa maioria de nossa população, inclusive que a minha. E friso novamente que fui muito bem atendido por todo o restante da equipe, mas justamente aquele profissional que seria o mais gabaritado para cuidar daquilo que chamamos de vida humana, pecou neste sentido. Meus animais domésticos, quando levados até o veterinário que os atende, são tratados muito mais humanamente. O veterinário até conversa com eles! E eu não tive sucesso ao tentar me comunicar com um médico...
Em resumo, sou grato por poder ter sido atendido sem custos (aspas aí, pois pago meus impostos) por estes profissionais, mas existem outras atitudes, ou chamemos até “procedimentos”, que tornam nossas vidas mais leves e que não fazem parte da grade curricular das universidades. Estes são aprendidos no convívio social, especialmente nos lares de cada um. E talvez eu seja um idealista, mas creio sinceramente que aquele “tempero” de que precisamos para tornar nossas vidas menos insossas e mais agradáveis está sendo negado a alguns e por alguns."

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