terça-feira, 21 de abril de 2009

Talvez eu não seja a pessoa certa, talvez seja contra-indicado.
Recluso, ácido, introspecto, denso talvez, incisivo às vezes, frio. Poucas palavras, mas não meias. Não me peça que lhe acaricie quando não é a hora, não trago comigo mais que a crueza do que tenho em mãos. Não me procure para distrações, meus olhos não se fecham tão facilmente. Se você se considera bem resolvido(a) e feliz, creio não ter nada a acrescentar-lhe, ou seria melhor não mesmo. Tenho cada dia menos disposição para gracejos e piadinhas. Escafandrista de águas pouco freqüentadas, não lhe posso acompanhar em vôos distantes. Não tenho mais asas e o mais alto que posso chegar é onde meus passos me levam. Se tens coragem para olhar-se no fundo dos próprios olhos, talvez possamos compartilhar alguns caminhos. Mas não me venha com pontos finais e pingos nos is. Não tenho respostas definitivas e sequer posso suportá-las. A estrada aberta da vida não permite enxergar além do horizonte. Não tenho ouvidos moucos, portanto não me traga palavras jogadas ao vento. Meus olhos, apesar de cabisbaixos, enxergam mais além do que demonstram. Meus lábios apertados contêm mais adjetivos do que os digno a expressarem. Pense duas vezes antes de os provocarem a derramar o que represam. Não são dados a verborragias, mas uma vez abertos não coagulam-se facilmente.
Não pretendo assustar a ninguém, mas também não sou de muitos amigos. A solidão, flagelo e vício, amante sado-masoquista, às vezes é o melhor porto para meus olhos cansados. Mas apesar de tudo, por traz de tudo, há esse desejo de ser compreendido, há essa busca por comunicar mentes inexoravelmente isoladas, há esse afã de encontrar-me no olhar alheio. É quando venho aqui expor-me, bater às portas deste mundo cego.
Mas ainda talvez seja tudo mentira, e eu esteja completamente enganado. Talvez seria a palavra certa...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dica - SOLID ROCK RADIO

Para quem curte blues e rock'n roll, aí vai a dica de uma rádio ONLINE acima da média entre as que se propõem a tocar estes estilos:

http://www.solidrockradio.com.br/

quarta-feira, 1 de abril de 2009

EXCLUSÃO AGORA É FASHION

Texto retirado do blog "Outubro", de Nei Duclós:


"A moda é o império da mesmice (por que as modelos trançam as pernas ostensivamente no caminhar artificial da passarela? para que os ossos, ao sacudirem, imitem o balanço das carnes que já não mais existem?). Anunciam que tem griffe fazendo catálogo em áreas detonadas de Sampa, e a Globo encontra talento fashion em catadoras de lixo, o que é o cúmulo da bizarrice, pois consolida a ascensão social pela via lotérica e debocha da violência da economia, que aumenta a grana dos ricos e transforma a população numa soma de mendigos.

NORMAL - Ao divulgar a pesquisa do IBGE que descobre o óbvio - a de que estamos fritos e não conseguimos pagar nossas contas - a imprensa não consegue citar direito nem uma frase do Millor Fernandes. O certo é "cada vez sobra mais mês no fim do dinheiro". Além de citarem errado, esquecem de lembrar a fonte (o que já é "normal"). Notaram como reagem os culpados quando flagrados em alguma falcatrua? O que você achou dessa denúncia de que você desviou um bilhão dos cofres públicos? Normal, responde o acusado. Por que você xingou a repórter? Normal, responde o atleta. O que aconteceu ontem que você matou ciclana? Normal, diz o assassino. Virou normal também xingar o povo de tudo o que é tipo de palavrão. Quem inventou a moda foi o Elio Gaspari no seu jornal exclusivo, concentrado na Folha dos domingos. Choldra e patuléia são suas definições favoritas para se referir ao povo brasileiro. O pior é que a moda pegou. Todos viraram reprodutores desse tipo de desprezo, achando que se pode falar em choldra e patuléia a torto e direito. Já o pequeno poupador é chamado de viúva. Ninguém reclama, todo mundo acha o máximo e sai repetindo. Virou moda porque parece que o autor do texto é simpático ao povo, está defendendo-o, colocando-o sob o palavrão a partir de um falso álibi, de que o desprezo existe na realidade e não no comentário, pois é a chamada elite brasileira que acha o povo uma sub-coisa. Seria uma denúncia, mas não é. O jornalista, no caso, assume a exclusão dando uma de gostoso, ou seja, transformando-se em algo mais importante do que a elite. Ele posa de onisciente, um cérebro acima de todos os grupos sociais. O que faz de fato é projetar a própria condição de uma classe social que se destaca excluindo as outras.

COLUNISTAS - Ninguém tem coragem de peitar os poderosos da mídia. Todo mundo evita falar mal dos colunistas, das griffes da comunicação. Para mim, a maioria é um bando. Vocês viram o tal Contardo Calligaris definindo as fotos da tortura do Iraque como expressão erótica sadomasoquista? Esquece-se o luminar que sexo é consentimento. Não existe erotismo fora do império do sim. O que ele acha agora das fotos da sua "dominatrix" sorridente ao lado de um prisioneiro assassinado na prisão? Também não passa de sadomasoquismo? Hoje o referido colunista explica a fonte do autoritarismo de Lula. Para ele, os que são excluídos simbolicamente procuram impor-se na marra. "Esse mecanismo explica porque, quando os deserdados ou seus representantes chegam ao poder, eles sucumbem facilmente a tentações autoritárias", diz. Ele acha que a fonte desse autoritarismo é a noção de que o poder não está sendo reconhecido. É o contrário: o autoritarismo é fruto do sistema em que estamos, da ditadura civil. O poder discricionário é exercido porque isso é garantido pelo silêncio da mídia, pelo poder das medidas provisórias e pelo arrocho econômico, que inventa as dívidas de todos. Houve autoritarismo em Collor, que seqüestrou o dinheiro em caixa da nação, desde a poupança até a conta corrente. Houve autoritarismo em FHC, que entregou de bandeja o patrimônio público enquanto encheu-se de honrarias e hoje posa de cidadão do mundo. Houve autoritarismo do Sarney com seu famigerado Plano Cruzado, que destruiu a nação. Houve autoritarismo em Itamar quando inventou a moeda falsa, o Real (que "valia" um dólar, lembram-se?) e impingiu-nos seu ministrinho da Fazenda, o FHC, ato do qual arrependeu-se amargamente. Ou seja, todos os presidentes civis desta nova fase da República Velha fazem parte do mesmo equívoco. Por isso Lula é autoritário, porque o regime assim exige, não porque sente-se ainda um excluído ( o que provaria a certeza de que esse "povinho" não sabem mesmo se governar). Lula é a expressão dessa falsa democracia que nos pune.

CONVITE - E comporte-se direito, senão você vira "leitor desavisado", aquele que é informado com expressões do tipo "diga-se de passagem"(de passagem porque você é um desinformado que precisa que a mídia lhe ponha comida na boca, mesmo que isso cause engulhos aos jornalistas). "Concentre-se o leitor" diz hoje no Estadão o antropólogo Roberto da Matta. Ou seja, não vá ler de maneira superficial, pense. "Convite à reflexão" é a a ordem mais usada para esse tipo de situação, como se refletir dependesse de convite. Você não vai conseguir pagar as contas este mês? Quem manda não saber refletir. Você precisa de convite para começar a pensar, já que você é incapaz de tomar a iniciativa de raciocinar. Vamos, o que está esperando? Vai ficar "no sofá", é? Vai ficar fazendo parte da choldra, da patuléia? Assim é que é. Pois é com você que estão se divertindo. Nós somos o play-ground dessa canalha."